As relações de poder nas pesquisas em contabilidade: uma análise a partir da perspectiva de Foucault e Bourdieu*

Las relaciones de poder en las investigaciones en contabilidad: un análisis a partir de la perspectiva de Foucault y Bourdieu

Power relations in accounting research: An analysis based on the approaches of Foucault and Bourdieu

Cuadernos de Contabilidad, vol. 20, núm. 49, 2019

Pontificia Universidad Javeriana

Mara Vogt a

Universidade Regional de Blumenau, Brasil


Marcia Zanievicz da Silva

Universidade Regional de Blumenau, Brasil


Jonas Cardona Venturini

Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil


Recepção: 02 Janeiro 2019

Aprovação: 11 Maio 2019

Publicado: 30 Junho 2019

Resumo: Por meio de uma revisão bibliográfica, este artigo descreve de que forma são vistas as relações de poder na prática de pesquisas em contabilidade, segundo a fundamentação teórica de Foucault e Bourdieu. A revisão foi aplicada nas pesquisas da área gerencial e financeira. Os resultados mostram que a temática é ainda incipiente, principalmente na área financeira. Notou-se ainda que foram poucas as contribuições à disciplina em geral. Os aspectos mais relevantes nos estudos foram a questão disciplinar, baseada Foucault, e a questão da dominação, remitindo a Bourdieu. Nenhum dos estudos analisou a tríade de Bourdieu: campo, habitus e capital, sendo que apenas o habitus foi mencionado, mas de forma sutil.

Códigos JEL: M40, Z10

Palavras-chave: Relações de poder, Foucault, Bourdieu, contabilidade gerencial, contabilidade financeira.

Resumen: A través de una revisión bibliográfica, este artículo describe de qué forma son vistas las relaciones de poder en la práctica de investigación en contabilidad, siguiendo la fundamentación teórica de Foucault y Bourdieu. La revisión fue aplicada en las investigaciones del área gerencial y financiera. Los resultados muestran que la temática es aún incipiente, principalmente en el área financiera. Además, se evidenció que fueron pocas las contribuciones realizadas a la disciplina en general. Los aspectos más relevantes en los estudios fueron la cuestión disciplinar, basada en Foucault, y la cuestión de la dominación, que remite a Bourdieu. Ninguno de estos estudios analizó la triada de Bourdieu: campo, habitus e capital. El concepto de habitus fue mencionado, aunque de forma sutil.

Códigos JEL: M40, Z10

Palabras clave: Relaciones de poder, Foucault, Bourdieu, contabilidad gerencial, contabilidad financiera.

Abstract: This paper presents a literature review covering the different points of view about the power relationships in accountancy researches. It was selected accountancy studies based on the works of Foucault and Bourdieu. This review was applied to the researches in management and financial areas. Results show that this subject is still incipient, mostly in financial area. In general terms, there were few contributions to the discipline. The main aspects of the studies were the disciplinary subject, related with Foucault, and the domination subject, related with Bourdieu. Any of these studies analyzed the Bourdieu’s triad: field, habitus and capital. There were some mentions to the concept of habitus, but in a marginal way.

JEL Codes: : M40, Z10

Keywords: Power relations, Foucault, Bourdieu, managerial accounting, financial accounting.

INTRODUÇÃO

O poder é um fenômeno que está sendo amplamente discutido no contexto organizacional. Contudo, antes mesmo de expor como os estudos na área contábil se apropriaram desta teoria, é importante situar os leitores para o entendimento do que é o poder para Foucault e Bourdieu e de onde emergiu o conceito. As relações de poder estão imersas no contexto organizacional, seja no âmbito empresarial, social ou familiar.

Para Foucault (1979), o poder é visto do ponto de vista dos efeitos e se exerce em níveis variados da rede social. As relações de poder consistem em um conjunto de práticas sociais e discursos que visam disciplinar o corpo e a mente dos indivíduos ou grupos. Sendo assim, o poder “fabrica” o homem, dá ensejo ao saber, logo o homem é produto do poder e objeto do saber. Sendo assim, é possível entender o porquê o poder não se encontra somente nas instâncias superiores da censura, mas penetra profundamente e sutilmente na sociedade. Ele está entre as coisas mais escondidas no corpo social. Merece ser investigado, até para que se possa compreender como esse poder é exercido pelos agentes, e quais são suas consequências no que tange a dominação.

Para Bourdieu (1991), essas relações de poder são vistas de modo semelhante, porém, o autor deixa claro que tais relações tendem a se reproduzir na forma de poder simbólico. Isto é, em visões de mundo que buscam contribuir para a continuação dessas relações, uma vez que tais relações são vistas como algo positivo, como capacitadoras, criadoras, ativas e inventivas, e não como algo que reprime. Diferente de Foucault (1979, 2011) que versa sobre o poder disciplinar, o qual tem por objetivo tornar o homem mais útil e dócil, Bourdieu (1989, 1991) elucida sobre o poder simbólico, o qual só pode ser exercido com cumplicidade dos dominados em relação aos dominantes, e se considera invisível. Vale ressaltar que o principal ponto que distingue os dois autores em relação ao poder é a questão da dominação. Enquanto para Foucault esta atua disciplinando o homem, para Bourdieu, atua engendrando a reprodução social. A partir do exposto, da complexidade do poder sob o ponto de vista destes dois importantes autores que versam sobre as relações de poder, entende-se que é relevante olhar para os estudos que foram realizados na área contábil utilizando tais autores. De acordo com Farjaudon e Morales (2013), alguns atores utilizam a contabilidade para mudar as lógicas e inclusive as práticas dominantes, exercendo dominação e a reprodução do poder.

É importante identificar como se dão os fenômenos da “disciplina” e da “dominação” na área contábil, no contexto das organizações. Wickramasinghe (2006) salienta que, na contabilidade o poder pode ser tipificado em ‘poder da contabilidade’ e ‘poder sobre a contabilidade’. De acordo com o autor, o primeiro encontra-se articulado com a capacidade de gerar interesses comuns entre grupos rivais. Deste modo se visa controlar os demais grupos a partir de dados contábeis e produção de conhecimento organizacional. Por outro lado, o poder sobre a contabilidade, expressa a dependência contábil em relação às decisões que tangem as estruturas econômicas e sociais dominantes e estabelecidas historicamente (espírito capitalista, culturas, tradições éticas e sociais).

A contabilidade é essencial para todas as organizações. Com ela são reforçadas as relações de poder, permitindo aos indivíduos que, diante do seu consenso social, articulem suas necessidades e anseios pessoais (Bryer, 2011). As relações entre o poder e a contabilidade surgiram devido à necessidade de se impor um maior controle relativo às ações dos indivíduos que estavam envolvidos com as informações contábeis. Esse controle está relacionado com as atitudes dos indivíduos na gestão, na elaboração das demonstrações, relatórios, configuração e uso dos mais diversos sistemas e na tomada de decisão. É por isso que a contabilidade pode ser vista como um instrumento de poder, neste caso, como ‘poder da contabilidade’, tendo em vista que expõe informações desses relatórios, demonstrações sobre o que acontece nos mais diversos contextos organizacionais. A partir desse cenário, nota-se a importância de se compreender como o poder relaciona-se com a contabilidade (Cosenza et al., 2012).

Pode se considerar a Karl Marx e Max Weber como os primeiros cientistas sociais em tratar as relações de poder. Marx entendia o poder a partir das relações de produção e reprodução. Weber dava ênfase ao poder legítimo social e econômico, considerando este poder como algo inevitável no contexto organizacional. Ele se centrava nas hierarquias das estruturas de dominação (Weber, 2004). Além de Marx e Weber, recentemente estão sendo realizados estudos utilizando explicações de Foucault e Bourdieu para as relações de poder. Entende-se que inserir novos autores na área contábil, para discutir temas relevantes como as relações de poder é primordial para o avanço na pesquisa. A partir das suas teorias torna-se necessário visualizar determinadas realidades, áreas, contextos com outros olhos, refletindo o que determinado fato pode estar querendo nos mostrar por outras lentes, neste caso filosóficas e sociológicas, e usando uma teoria pouco explorada na área contábil.

Diversos estudos já abordaram a questão do poder e suas relações na contabilidade. Entretanto, nenhum estudo se aprofundou especificamente na relação da contabilidade com a teoria. Alguns trabalhos utilizaram por base a teoria de Foucault na área Gerencial (Loft, 1986; Covaleski & Dirsmith, 1988; Macintosh & Scapens, 1990; Boland, 1993; Fleischman, Hoskin & Macve, 1995; Hoskin & Macve, 2000; Baxter & Chua, 2003; Clegg, 2006; Scapens, 2006; Temellist, 2009; Baker, 2010; Cosenza et al., 2012; Goretzki, 2013; Malmmose, 2015; Baud & Chiapello, 2016); enquanto outros utilizaram a teoria de Bourdieu (Oakes, Townley & Cooper, 1998; Ahrens & Chapman, 2007; Chua & Mahama, 2012; Green, 2012; Gibassier, 2017). É importante ressaltar o estudo de Cooper e Hopper (2006) que utiliza como base, a abordagem de Foucault e Bourdieu.

Na área financeira, apenas localizaram-se os estudos de Williams (2005), Malsch, Gendron e Grazzini (2011) e Farjaudon e Morales (2013) que utilizaram como base a Bourdieu. Foram localizados alguns estudos que descreveram as relações de poder no âmbito da Contabilidade Gerencial e Financeira. Hopper e Macintosh (1993), Munro (1993) e Bryer (2013) desenvolveram seus estudos com base em Foucault. Baxter e Chua (2008) utilizaram a visão de Bourdieu para explicar os resultados do estudo. Por fim, outro estudo desenvolvido por Suzuki (2003), utilizou Foucault e Bourdieu com vistas a fortalecer a discussão apresentada.

A partir da revisão desta literatura, na presente pesquisa interessa-nos descrever, seguindo as perspectivas de Foucault e Bourdieu, de que forma são vistas as relações de poder nas práticas de pesquisa em contabilidade?

Segundo Cosenza et al. (2012) é importante analisar os mecanismos de gestão, regulação, bem como, controle, em diversos níveis e esferas sociais e econômicas. Os autores também frisam que a analise das relações de poder contribui para o melhor entendimento dos fatos organizacionais e relações interpessoais. Da mesma forma, Araújo (2010) salienta que a contabilidade como disciplina constitui uma ferramenta poderosa a ser utilizada nas relações de poder dentro e entre as organizações. A contabilidade torna visíveis as atividades dos indivíduos que se utilizam a mesma.

É importante ressaltar que a maioria dos estudos fundamentados em Foucault têm sido realizada em relação a contabilidade gerencial, sendo poucos os estudos na área financeira (Riccio, Mendonça Neto e Sakata, 2007). É necessário analisar as duas áreas contáveis devido ao papel limitado da contabilidade, muitas vezes comprometido pela política interna e poderes inerentes à organização (Nielsen, Mitchell & Norreklit, 2015).

No que se refere a Contabilidade Gerencial, esta não têm como ser separada do exercício do poder nas organizações. Porém, está ligação não é óbvia nem facilmente identificada. Esta situação pode se corresponder com a categoria do poder invisível introduzida por Bourdieu (Baxter & Chua, 2003). Já no caso da Contabilidade Financeira, Suzuki (2003) analisa como ela é constantemente explorada como instrumento de poder. Contudo não há estudos aprofundados na área.

Neste estudo, efetuou-se uma revisão da literatura sobre as relações de poder associadas ao contexto contábil, com embasamento nas teorias de Foucault e Bourdieu, tanto na área gerencial quanto na financeira. Pretende-se identificar as diferenças das duas abordagens e áreas. Dado que as duas áreas são as mais estudadas até o momento no que tange ao fenômeno de poder, esta pesquisa oferece uma visão comparativa de seus respetivos comportamentos.

A metodologia utilizada foi de natureza exploratória e analítico-descritiva. Foram analisados dados obtidos a partir do exame bibliográficos de forma qualitativa. Por se tratar de um estudo bibliográfico, utilizam-se os argumentos de Hoskin e Macve (2000) que salientem que, estamos sempre voltando ao passado, sejam por meio de novas evidências, interpretações ou até mesmo, a partir de um novo foco em eventos que foram negligenciados. Esse revisionismo se constitui em algum aspecto particular do passado, uma descoberta de novas evidências, de novos padrões, o que é excelente.

Foram selecionados todos os estudos que citaram a Foucault e Bourdieu na área contábil, nas diversas bases de dados acadêmicos disponíveis, tanto nacionais, quanto internacionais (Scopus, Science Direct, SPELL, SCIELO, RCAAP e no Google Acadêmico). Para tal fim, aplicou-se um filtro de busca abrangendo as seguintes expressões: financial accounting, management accounting, Foucault, Bourdieu, power e power relations (e seus correspondentes na tradução ao português).

Foram escolhidas as expressões contabilidade financeira e contabilidade gerencial devido a elas referirem duas grandes áreas da contabilidade que, em algumas situações, podem ser considerados como aproximados, ou inclusive iguais (Frezatti, Aguiar e Guerreiro, 2007). Contudo, as diferentes demandas e percepções de seus usuários nos mais diversos países, fazem com que estas duas áreas se distanciem, sendo a contabilidade financeira utilizada para usuários externos e a contabilidade gerencial para usuários internos.

Foram selecionados exclusivamente artigos de revistas científicas, sem estabeler parâmetros para a delimitação do período de publicação. Decorrente do filtro aplicado foram recuperados 371 artigos, sendo que destes, 34 são nacionais. Na sequência, procedeu-se a leitura dos títulos e resumos, com o objetivo de excluir falsas recuperações, estudos duplicados, ou que só citassem Bourdieu e Foucault como referências secundárias e não como base teórica das pesquisas. A seleção resultou em 25 artigos sobre a temática das relações de poder na contabilidade gerencial, 3 na contabilidade financeira, e 5 que analisaram as duas áreas. O período da busca dos artigos ocorreu em julho de 2018.

Será possível evoluir no entendimento das relações de poder a partir deste estudo, em duas diferentes áreas da contabilidade, diante da contribuição dessa teoria e aspectos que são inerentes ao contexto, bem como, por conta do poder disciplinar apresentado por Foucault e do poder simbólico, campo, habitus e capital elucidados por Bourdieu. A partir deste estudo será possível identificar de que forma a temática está sendo relacionada nos diferentes contextos, possibilitando a identificação de lacunas e oportunidades de pesquisas futuras, o que é extremamente profícuo e necessário para que haja a continuidade dos estudos e até mesmo, o interesse de investigação da temática por aqueles que ainda não a conhecem.

A seguir será apresentada de modo geral a visão de Foucault e Bourdieu sobre as relações de poder. Na sequência, serão descritas as visões sobre as relações de poder nos estudos em Contabilidade Gerencial e Financeira. Por fim, são apresentadas as reflexões finais, indicando as principais limitações, e sugestões para estudos futuros.

RELAÇÕES DE PODER

Cada organização e indivíduo tem suas próprias características que devem ser vistas com diferentes olhares na Contabilidade Gerencial e na Contabilidade Financeira. Para as correspondentes definições de poder e poder simbólico utilizou-se as obras Vigiar e punir e Microfísica do poder de Foucault e Poder simbólico e Language and symbolic power de Bourdieu. Será utilizado o termo “poder disciplinar” quando se trata das relações de poder para Foucault; e de “poder simbólico”, considerando a tríade: campo, habitus e capital, se referindo ao poder para Bourdieu.

Relações de poder a partir da perspectiva de Foucault

As relações de poder na perspectiva de Foucault são vistas como um poder disciplinar. Isto é, o poder não é algo que se divide com quem o possui e detêm, nem com quem não o possui e sob o qual está submetido. Pelo contrário, o poder deve ser analisado como algo que funciona em rede (Foucault, 1979). Entretanto, para o autor estas relações de poder não são visíveis no corpo social e, por tanto, acabam deixando de ser analisadas. Estas não se encontram em um lugar específico, mas em micro relações, isto é, organizações, escola, família, igreja, polícia, hospitais, entre outras.

É preciso entender as práticas sociais e discursos utilizados para disciplinar os indivíduos, como por exemplo, seus gestos, atitudes, condutas, posturas e suas emoções. Além disso, deve-se considerar que para Foucault (1979), as relações de poder estão atreladas ao conhecimento e possuem capacidades criadoras. Esse poder deve ser exercido como uma estratégia, considerando que seus efeitos de dominação não sejam concebidos como uma propriedade, nem que sua aplicação seja percebida como uma obrigação ou proibição para os que não o possuem. Ao contrário, deve passar através destes, apoiando-se nos mesmos. Isso porque um dos marcos mais fortes de Foucault em relação ao poder é que este está atrelado ao saber, a disciplina, sendo que o poder produz o saber. Além do mais, para o autor, não há relação de poder sem saber, nem saber que não se constitua em relações de poder.

Sendo assim, onde há poder e saber, também há resistência devido a disciplina que é exigida (Foucault, 1979). Consequentemente, ocorrem as disputas pelo poder e a concorrência acaba tornando-se mais forte. Deve-se levar em consideração que essa disputa precisa ser analisada, afim de identificar quem está ganhando nessa relação de poder (o empregado ou a empresa), pois muitas vezes a legitimação do poder se dá para o próprio interesse. Inerente ao poder e ao saber, está a verdade, o que deve ser visto como algo positivo, pois a verdade está atrelada ao saber.

Albuquerque (1995) destaca, seguindo a Foucault, que o poder se constitui em autoridade e obediência e não como algo que já existe e que seja soberano. Isto com vistas a dominar os súditos. O poder existe como forma de autoridade, para liderar, isto é, é usado para influenciar determinados comportamentos. A meta, a partir do poder, é de manter a ordem política, sendo que a mesma define a natureza da relação de poder. O poder sempre produz assimetria e, se exerce permanentemente, incentiva e faz produzir.

Conforme o exposto por Cappelle (2006), o poder em Foucault é concebido como um conjunto de práticas sociais e discursos construídos historicamente, que disciplinam o corpo e a mente de indivíduos e grupos. Quando se trata de dominantes e dominados, Cappelle destaca que estes são cúmplices e ordenam o funcionamento do campo. Isto é, juntos promovem as relações de poder, a partir de múltiplos mecanismos dispersos de dominação. De este modo, se reforça ou se fragiliza o exercício do poder de um modo menos centralizado. É exatamente neste ponto que as obras de Foucault e Bourdieu diferem. Para Foucault é possível exercer o poder para disciplinar, para se manter, se sobressair ou ainda, para resistir em determinado campo ou espaço organizacional. Nesse campo, as relações podem ser percebidas pelos agentes na própria interação.

Na visão de Foucault (1979) é impossível se livrar das relações de poder, sendo que estas não têm limites claros, e não estão localizadas em uma única instituição. Este poder pode reprimir, mas também produzir efeitos de saber e de verdade, que são importantes para o indivíduo e para a sociedade. Nesse sentido, o autor apresenta um triângulo em que temos o poder, o direito e a verdade que estão localizados nos vértices. Sendo assim, o poder como direito se apresenta nas formas em que a sociedade se coloca e movimenta. Por outro lado, o poder como verdade se institui pelos discursos que são produzidos. Entende-se, nesse sentido, que somos submetidos pelo poder para a produção da verdade, ao tempo que precisamos produzir essa verdade para poder produzir riqueza.

Relações de poder a partir da perspectiva de Bourdieu

Para Bourdieu (1991), todas as relações de poder se desenvolvem em determinado campo. Cada campo é composto por estruturas tanto objetivas quanto subjetivas, isto é, instituições, linguagens, discursos, práticas, ritos e culturas. De acordo com Catani (2011), o campo de poder representa o espaço de lutas. Os agentes de determinado campo estão dotados de diferentes tipos de capital. A possessão de determinado capital é o que determina o tipo de práticas de luta pelo poder.

As interações são influenciadas pelo habitus, que se define como as estruturas mentais incorporadas nos sujeitos a partir de processos de socialização durante sua vida (Bourdieu, 1991). A partir do habitus é possível colocar em evidência as capacidades criativas, ativas e inventivas do indivíduo. O habitus compõe-se de regras, conhecimentos adquiridos e saberes práticos. Dentro de um campo, ou seja, um espaço de disputas, de concorrência, o habitus é utilizado para conquistar alguma forma de capital. Estas práticas reiteradas legitimam o tipo de poder que caracteriza ao campo, o qual está atrelado a um tipo específico de capital.

O capital é o terceiro elemento que compõe a tríade de Bourdieu, essencial para o entendimento das relações de poder. Este se apresenta nas formas de capital simbólico, social, econômico, escolar, político, cultural, entre outros. Esta diversificação do conceito de capital deve-se a que as relações de poder se reproduzem de formas simbólicas, isto é, em visões de mundo que tendem a assegurar a estabilidade e permanência do campo. Nessa luta pela visão legítima de mundo social, os indivíduos exercem um poder proporcional ao seu capital simbólico. Isto é, de acordo com o reconhecimento que recebem do grupo. Neste sentido, o grau de possessão de determinado capital simbólico está diretamente relacionado com o status, prestígio, reputação dentro do campo. Ao longo da sua trajetória, seja pessoal ou profissional, as pessoas procuram acumular a maior quantidade de capital simbólico legitimado pelo campo (Bourdieu, 1989).

O poder simbólico é um poder invisível que só pode ser exercido com a cumplicidade daqueles que a ele estão sujeitos ou seja, na relação entre os que exercem o poder e os que lhe estão sujeitos.

O conceito de poder simbólico foi construído tomando em consideração o conceito de poder intelectual de Weber. Em Weber os intelectuais são vistos como preocupados em manter privilégios para terem acesso à dominação social, ou seja, possuíam autonomia. Bourdieu adaptou essa ideia, trazendo a perspectiva de relação entre dominante e dominado (Valle, 2007).

Em relação ao contexto organizacional, Oakes, Townley e Cooper (1998) enfatizaram que o planejamento de negócios deve ser visto como um mecanismo de controle. Isto é, uma forma de poder para mudar o que está em jogo, como acontece com o capital no caso das organizações.

Nesse sentido, desde o ponto de vista das relações de poder, o planejamento dos negócios pode ser relevante com vistas a categorizar a forma e estrutura dos processos de decisão. Os autores exemplificam que uma maneira em que os gerentes exercem o poder é exigindo planos de negócios, bem como rejeitando os que não estiverem adequados (Oakes, Townley & Cooper, 1998).

Outro ponto interessante, segundo Bourdieu é o fato de que as relações de poder e de dominação descaracterizam a possibilidade de uma ciência neutra. Esta não pode ser considerada de tal forma, levando em consideração que existe uma disputa constante pela conquista da legitimidade, tanto ao falar, quanto ao agir.

Toda disputa em um ou mais campos se desenvolve nos termos da apropriação ou redefinição de algum capital. Os diferentes tipos de capitais “podem ser acumulados, convertidos uns nos outros, transmitidos de geração em geração, mas sempre dependentes dos contextos sociais que condicionam seu ‘valor’ social” (Lebaron, 2017, p. 103). Neste arcabouço teórico as relações de poder, o poder simbólico e a tríade: campo, habitus e capital se complementam.

Vale destacar que é preciso ter cuidado e atenção ao utilizar a obra de Bourdieu nos estudos, pois Bourdieu ao longo de suas obras vai amadurecendo suas ideias e teorias e frisa a importância da vigilância epistemológica, ou seja, esse cuidado que devemos ter na e com a utilização de conceitos, teorias, abordagens, metodologias, tendo em vista a maior fidelidade possível para não enviesar a ideia ou intenção de determinado autor. Além disso, os autores destacam que é preciso tomar cuidado, mas a preocupação metodológica não deve ser obcecada. Outro ponto que chama a atenção é o fato de que é possível utilizar a teoria de Bourdieu para estudos tanto qualitativos, quanto qualitativos, porém, é necessário ter rigor e vigilância epistemológica, coerência teórica e fidelidade ao real (Bourdieu, Chamboredon & Passeron, 2015).

RELAÇÕES DE PODER NA CONTABILIDADE GERENCIAL E FINANCEIRA

Relações de poder na contabilidade gerencial

Desde 1983, Markus e Pfeffer enfatizavam que a Contabilidade e os Sistemas de Controle de Gestão, utilizavam o poder para a tomada de decisão, para alterar o desempenho organizacional e para conferir legitimidade. Contudo, na época não era dada a atenção devida ao contexto organizacional em que os sistemas eram utilizados, como por exemplo, a cultura e a distribuição do poder. Igualmente, não era tomado em conta a possibilidade de que os sistemas de controle fossem utilizados para minimizar a resistência dos indivíduos e maximizar os resultados da empresa.

Cooper e Sherer (1984) já aduziam que era preciso reconhecer o poder e os conflitos inerentes às empresas, pois estes têm efeitos nos relatórios contábeis, e é comum encontrar interesses de elites ou classes nos mesmos. Sendo assim, frisavam que a utilização obrigatória de sistemas na contabilidade, bem como, a divulgação de relatórios, ajuda a sustentar o poder dos interessados. Tais relatórios ou sistemas podem ser utilizados para dominação, com vistas a obter algum capital, como o capital simbólico (prestígio, honra, reputação); capital econômico (retorno financeiro, remuneração); capital social (laços, relações sociais); capital escolar (qualificações técnicas, cursos, diplomas), dentre outros capitais.

A perspectiva genealógica de Foucault é aplicada no estudo de Loft (1986) para explicar a contabilidade de custos e de gestão. Loft entende este processo como um “regime de verdade” que é formado em relação aos eventos. O autor reafirma que essa perspectiva procura iluminar os detalhes do desenvolvimento da contabilidade de custos e de gestão como sendo uma técnica de conhecimento e exercício de poder, pois pode ser usada pelos indivíduos a partir do ‘saber’ para manipular os demais à fazerem as coisas de acordo com os próprios interesses, ou tendo em vista o benefício próprio futuro, sendo que isso normalmente não ficará explícito. Além do mais, algumas vezes a utilização dessas formas de gestão possa ser utilizado de acordo com a teoria de Foucault para discipliná-los a realizar as tarefas de acordo com o que determinado(s) gestor(es) quer(em) ou, de acordo com o que a própria organização deseja. Já Covaleski e Dirsmith (1988), destacam que os sistemas orçamentários também ajudam a manter relações de poder existentes no que diz respeito ao controle e às organizações.

Entende-se que a contabilidade de custos e de gestão, bem como, os sistemas orçamentários possibilitam a maior aquisição de conhecimentos e com isso exercer o poder da contabilidade perante aos seus usuários. Em este caso, dado de que se trata da contabilidade gerencial, os usuários serão internos da empresa. Sendo assim, eles terão muitas informações que servirão de suporte para conseguir conquistar mais capital econômico e simbólico. A medida em que os empregados adquiram maior conhecimento sobre determinados sistemas e outras informações, maior será o seu reconhecimento perante aos outros. Isto poderá se ver refletido em retornos financeiros para o agente e até mesmo, para a empresa. A partir de um sistema orçamentário é possível que o indivíduo consiga verificar as necessidades ou aspirações futuras.

Macintosh e Scapens (1990) realizaram um estudo sob a perspectiva gerencial e verificaram que a contabilidade gerencial é um recurso que pode ser usado no exercício do poder nas organizações. Os gestores utilizam a dominação para responsabilizar outros indivíduos dentro da organização por atividades específicas. Os autores também afirmam que a contabilidade gerencial é um elemento-chave no processo de prestação de contas, podendo legitimar certos atos de participantes organizacionais e legitimar é uma forma de dominar ou buscar a dominação.

De acordo com Wickramasinghe (2006), o poder da contabilidade está articulado com a capacidade de gerar interesses comuns, visando controlar os demais a partir de dados contábeis e produção de conhecimento organizacional. Deste modo, tende a legitimar comportamentos, responsabilizando indivíduos, ou seja, dominando.

Há também críticas em relação a abrangência da utilização do poder para explicar a Contabilidade Gerencial. Boland (1993) afirma que os Sistemas de Contabilidade Gerencial são esquemas interpretativos, e nega a qualidade simbólica do discurso e da interpretação. Ademais, ressaltar que os discursos podem coordenar e controlar os participantes, também negligencia a ambiguidade e a necessidade de interpretação na compreensão das relações de poder.

Fleischman et al. (1995) destacam que as medidas e normas contábeis, tanto internas como externas, passaram a permear as organizações de cima para baixo, cobrindo tanto o desempenho trabalhista, quanto o desempenho gerencial. Isto representa uma forma de dominação e de poder. Este fato ocorre devido ao fato de que, contrário das máquinas, os seres humanos respondem às medidas de desempenho, internalizando-as em formas de autocontrole. Ao tratar do planejamento empresarial, Oakes et al. (1998) consideram que este é muito mais que um controle simbólico, pois possibilita a alocação do capital no campo, seja este na forma de capital cultural, ou capital econômico.

Hoskin e Macve (2000) compreendem os modernos sistemas de custos e Contabilidade Gerencial como um novo tipo de conhecimento disciplinar especializado, bem como, um exercício de poder disciplinar. Sendo assim, é preciso respeitar o que os sistemas de custos demonstram, ser disciplinados no uso dessas informações da contabilidade. Além do poder disciplinar, Collier (2001) enfatiza que a contabilidade é utilizada para legitimar processos, pois a mesma não é neutra, mas sim, cercada de jogos de poder. Também carregada de interesses que variam de pessoa para pessoa e de organização para organização. Igualmente, a forma de dominar e a intensidade desse poder pode mudar de um sistema para o outro, de uma empresa para a outra, de um indivíduo para o outro.

Na visão de Baxter e Chua (2003), as obras de Foucault têm sido fundamentais para entender a contabilidade gerencial, desde o ponto de vista das novas técnicas como agrupamento de investimentos, planejamento de recursos de manufatura, flexibilidade, modernidade, classe mundial, qualidade, entre outros, entendidas como mecanismos de poder. Essas técnicas fornecem um contraste forte às caracterizações mais tradicionais do controle. Na mesma linha, Scapens (2006) identifica a confiança, o poder e a agência como práticas relevantes para entender os mecanismos de controle na contabilidade gerencial. Isso pode ser explicado tendo em vista o poder envolvido nessas práticas, o jogo de interesses, a dominação, pois é possível que algumas informações sejam utilizadas visando o reconhecimento próprio (capital simbólico).

Cooper e Hopper (2006) aduzem que o poder e o conflito são primordiais para entender as técnicas de contabilidade gerencial, o seu funcionamento, e os seus efeitos disciplinares. Clegg (2006) destaca que o poder é uma forma de resgatar o passado dos estudos organizacionais em forma de histórias, e construir o futuro a partir da imaginação. Para ele a luta para estabelecer poderes, pode ultrapassar as histórias que herdamos das experiências passadas, das regras e das crenças, isto é, do nosso habitus.

Ahrens e Chapman (2007), frisam que o Sistema de Controle Gerencial está fundamentado no poder de gerentes seniores para definir agendas, afim de estruturar práticas organizacionais e respostas aos demais membros da organização. Essas agendas podem ser consideradas formas de poder, pois são definidas de acordo com os anseios dos gerentes que, as vezes, obedecem a interesses pessoais. Além disso, conforme exposto anteriormente por Collier (2001), sabe-se que os interesses dos agentes não são neutros.

Temellist (2009) destaca que Foucault influenciou fortemente a pesquisa na área gerencial, a partir das noções de controle, disciplina, poder e conhecimento. Nesse contexto, as informações fornecidas pelo sistema gerencial, são vistas e diferenciadas entre boas e más. O autor entende a contabilidade gerencial como parte de uma rede de relações de poder e conhecimento para alcançar a eficiência organizacional. Baker (2010), por sua parte, afirma que o poder deve ser visto como positivo, produtivo, e relevante na área gerencial, pois requer um reconhecimento do conjunto mais amplo de relações de poder por meio do qual os gestores são responsáveis.

Neste sentido, é importante ressaltar que mesmo o poder tendo a conotação de dominação, essa relação de poder pode ser positiva. Contudo, isso irá depender muito do contexto analisado e das pessoas envolvidas. Cosenza et al. (2012), por exemplo, verificaram que as relações de poder são inerentes ao papel que a gestão exerce sobre os resultados da atividade empresarial. possibilitando caracterizar a contabilidade como fonte ou objeto de poder.

Da mesma forma, Chua e Mahama (2012) enfatizaram que a contabilidade gerencial está inextricavelmente envolvida na política organizacional, nas relações de poder e na criação de modos particulares de subjetividade. Para Green (2012), a própria linguagem pode ser vista como um importante mecanismo de controle e de conexão do conhecimento com o poder. Além do mais, o conhecimento tem sido subordinado aos interesses do poder, neste caso, advindo dos processos de gestão. Vale salientar que a linguagem também pode ser usada como uma forma de violência simbólica na contabilidade. Igualmente, conhecimento pode ser usado como uma forma de poder, pois pode estar atrelado ao capital escolar, quando este não for conhecimento do senso comum.

Goretzki (2013) mostra como o poder da contabilidade gerencial disfarça o domínio como disciplina e, assim, subverte a escolha, a individualidade e a autonomia dos indivíduos. Contudo, os gerentes dependem fortemente das técnicas contábeis gerenciais para sustentar seu pensamento e atuação. Malmmose (2015), seguindo a Foucault afirma que a adoção do vocabulário da Contabilidade Gerencial pode ser considerada uma extensão de uma formação estrutural poderosa e já estabelecida do conhecimento científico. Isto é, os sujeitos devem utilizar este vocabulário para sustentar argumentos poderosos ao seu favor.

Contemporaneamente, Baud e Chiapello (2016) utilizaram como base Foucault no contexto gerencial. Para tanto, identificaram que a presença de aspectos disciplinares nas regulações baseada no risco, não deve ser considerada como uma deriva patológica ou como uma subversão. Além do mais, destacam que as tecnologias para cálculo neste processo disciplinar são relevantes. Gibassier (2017) aduz que a descoberta das estratégias implementadas para criar ferramentas de contabilidade ambiental desempenham um papel crucial nas relações de poder. No que tange a área gerencial, isso pode levar a inovações na contabilidade gerencial, cujo objetivo é manter o status quo da elite a que pertencem.

Diante do exposto percebe-se que os estudos sobre as relações de poder na área gerencial foram realizados focando diversos pontos, contextos e organizações. Isto mostrou que, mesmo estes sendo abrangentes, não exploraram o fenômeno em profundidade. Contudo, eles mostraram de forma empírica como as relações de poder ocorrem na prática. Cabe ressaltar que a maioria dos estudos esteve pautado na perspectiva das relações de poder de Foucault.

Relações de poder na contabilidade financeira

Somente alguns pesquisadores exploraram as relações de poder, relacionando-as com a contabilidade financeira. Todos os estudos que serão expostos a seguir foram baseados em Bourdieu. O estudo de Williams (2005) sobre governança destacou que o poder é equiparado a um processo de produção do conhecimento dependente da mobilização de uma variedade de tecnologias e formas de especialização. Entretanto, o mesmo pode ser visto como um mecanismo invisível que se expressa em termos de capacidade de limitar, controlar e proteger de perto as oportunidades de produção do conhecimento. Isto é possível por meio da gestão das aparências, isto é, de um poder exerciso de forma simbólica. Este pode chegar inclusive à violência simbólica (por meio de palavras ou gestos que ofendam ou intimidem ao indivíduo).

Ao apresentar o poder como dominação, Malsch et al. (2011) verificaram que a visão bourdieusiana é complexa e dinâmica e, permite aos pesquisadores contábeis a utilizem e avancem, fazendo contribuições substanciais à literatura. Uma das contribuições pode ser o uso da teoria para explicar a polêmica crise financeira, fornecendo aos pesquisadores contábeis uma base firme para se engajar nas duas dimensões-chave do intelectualismo crítico de Bourdieu: produzindo conhecimento envolvido politicamente e envolvendo debates públicos.

De forma mais abrangente, Farjaudon e Morales (2013) salientam que a contabilidade atua para promover algumas apostas e estratégias, mas também silenciar outras. As vezes essas apostas e estratégias são puramente com o intuito de dominar, de controlar, de possuir o poder e reproduzir o mesmo em determinadas situações. Isso acaba tornando a contabilidade mais poderosas nos debates que negam as lutas e assimetrias em posições de poder, além de aumentar a legitimidade, dado que cria uma ilusão de participação. Além disso, os processos pelos quais os indivíduos relacionam a contabilidade com os discursos, objetivos e interesses organizacionais, são normalmente utilizados para legitimar a reprodução da dominação. Outra verificação foi em relação à luta pelo poder simbólico, o qual que define os tipos de capital mais valorizados dentro de uma organização ou campo. Sendo assim, em cada configuração, critérios específicos designam os recursos necessários para alcançar posições de prestígio.

Diante do exposto, percebe-se que não houve uma maior contextualização acerca das relações de poder nos estudos da área financeira, nem de qual forma as mesmas acontecem. Apenas houve uma explanação descritiva. Por mais que entendamos que as pesquisas analisando as relações de poder sejam mais viáveis na área gerencial, estas também são possíveis na área financeira.

Uma sugestão seria olhar a governança corporativa, levando em consideração as redes de contatos, laços sociais, ou seja, o board interlocking. Esto possibilitaria a análise das relações de poder a partir do capital social de Bourdieu na contabilidade. Para tanto, seria possível verificar de que forma os conselheiros utilizam as redes de contato para dominar ou aumentar a dominação, tendo em vista o benefício próprio ou das empresas envolvidas.

Relações de poder na contabilidade gerencial e financeira

Alguns estudos apresentam uma abordagem de Foucault e Bourdieu sobre as relações de poder, para explicar tanto a contabilidade gerencial quanto a contabilidade financeira. Do mesmo modo, os estudos descrevem sua utilização pelos gestores e demais usuários, sejam estes direta ou indiretamente relacionados à gestão e tomada de decisão.

No estudo de Hopper e Macintosh (1993) os autores utilizaram Foucault para explicar que o poder e a disciplina se tornaram um aspecto integral dos Sistemas de Contabilidade Gerencial. Contudo, os autores não acreditam que a contabilidade gerencial tenha sido um desdobramento dos relatórios financeiros externos, pois tais relatórios devem ser vistos de uma maneira diferenciada, comparados aos relatórios gerenciais. Isso porque cada um possui suas especificidades, de modo que nenhum é mais ou menos importante. Para os autores, os SCG podem disciplinar e controlar grandes organizações, de imensa dimensão e poder.

Por outro lado, Hopper e Macintosh (1993) frisaram que os estudos de contabilidade utilizando por base Foucault, têm sido muito conservadores. Contudo, oferecem a possibilidade de alavancar a crítica para uma investigação acurada na contabilidade.

Munro (1993) destaca que Foucault utiliza mais exemplos da medicina e psiquiatria para explicar as relações de poder. Para o contexto, a tarefa é adicionar exemplos da contabilidade gerencial e contabilidade financeira a cenário. É por esse motivo que o poder merece pesquisas em relação ao planejamento, orçamento, tomada de decisões, relatórios financeiros, gerenciais e de auditoria.

Foucault e Bourdieu se concentraram nas rotinas triviais e onipresentes da vida cotidiana como uma fonte importante de poder moderno. No caso da contabilidade, a mesma tendia a ser considerada como uma fonte de dados parcial e não problemática. Entretanto, as novas pesquisas na área, buscam iluminar seus aspectos sociais e constitutivos.

São poucos os estudos que tratam das relações de poder na contabilidade financeira. Geralmente, as abordagens são superficiais, tanto do ponto de vista epistemológico, quanto crítico (Suzuki, 2003).

O habitus, apresentado por Bourdieu, predispõe aos contadores gerenciais a participarem dos cálculos de custos ou ainda, na prestação de serviços financeiros. Esta atitude é vista como um sistema de disposição, que faz com que se continue fazendo determinada prática. Isso pois é possível prever e aceitar questões cotidianas que foram repetidas e nos fornecem a base para diferentes situações (Baxter & Chua, 2008).

Para Bryer (2013) a contabilidade dá atenção apenas aos relatórios periódicos que são cobrados. Contudo, as relações de poder em relação à força do trabalho acabam sendo deixadas de lado. O autor considera que esse comportamento mereceria ser observado para identificar as consequências, prevenindo roubos, perdas, aumentando a produção, a velocidade e os lucros. Bryer, seguindo a Foucault afirma que “é o fato de ser constantemente visto, de poder ser visto sempre, que mantém o indivíduo disciplinado” (1977, p. 187).

Nesse sentido, percebe-se que os agentes, na disputa pelo capital e indiferente se forem trabalhadores do chão de fábrica ou da gestão de topo, somente se preocupam com seus comportamentos quando forem vigiados. Isto porque, se não forem disciplinados, acabarão sendo punidos.

REFLEXÕES FINAIS

Estudar e entender as relações de poder no contexto organizacional é importante e necessário, com o objeto de possível visualizar seus diversos aspectos. Deste modo poderá ser possível explicar o sucesso ou fracasso de uma organização. Nesse trabalho se fez uma revisão da literatura sobre as relações de poder na contabilidade, segundo elas são entendidas por Bourdieu e Foucault. Percebeu-se que a literatura na área contábil, tanto financeira quanto gerencial, ainda é incipiente. Isso é mais notável nos estudos da área financeira. Nesta área quase não foram identificados estudos e, os localizados apenas citavam em algum momento do texto, o(s) autor(es).

Confirmou-se em este estudo que Foucault tem sido mais utilizado nas pesquisas contábeis em geral. Porém, nota-se também uma contribuição imensurável de Bourdieu para área, levando em consideração as diversas abordagens que são trazidas para a contabilidade, como o poder simbólico, capital, campo, habitus, dentre outros. Seguindo a Cappelle (2006), concluímos que os estudos sobre as relações de poder nas organizações abrangem temáticas que envolvem a subjetividade, o conflito, a dominação e os movimentos de aceitação do poder ou de resistência. Estes aspectos até então quase não foram investigados.

O fato de a maioria dos estudos que apresentaram alguma contribuição serem da área gerencial, pode ser explicado por Luft e Shields (2003), quem afirma que algumas informações não financeiras podem ser mais precisas ou sensíveis do que as informações financeiras propriamente ditas. Neste sentido, as informações não financeiras resultam mais facilmente compreensíveis. Além disso, neste caso, informações não financeiras podem dar maior visibilidade para alguns indivíduos nas práticas de apoio às diferentes relações de poder nas organizações.

O aspecto que mais chamou a atenção nos estudos foi a questão disciplinar, mais enfatizada por Foucault. Também foi representativa a questão da dominação, apresentada por ambos os autores. Contudo, nenhum dos estudos deu ênfase aos aspectos que se referem à tríade (campo, habitus e capital), especialmente no que tange o capital.

Pode se dizer que não houve uma abordagem específica que possibilitasse a continuidade para pesquisas futuras. Entretanto, destaca-se a possibilidade e importância de se dar mais atenção às relações de poder na área financeira.

A contabilidade é vista como uma ferramenta para racionalizar o racional, bem como, reforçar as relações de poder. Uma forma comum dentro de uma organização no que tange as relações de poder é por meio da liderança, através da sensibilização com a capacidade individual e aspirações. Esta é nada mais é que uma forma de melhorar e aumentar as relações hierárquicas do poder entrelaçadas com a contabilidade (Bryer, 2011).

A partir dos resultados foi possível perceber que Foucault tem sido considerado um filósofo importante que trouxe a questão das relações de poder para dentro da contabilidade. O mesmo pode se dizer de Bourdieu, ainda que ele foi utilizado de forma superficial na área contábil, não focando aspectos específicos com maior profundidade. Isso pode ser explicado pelo fato de que as obras de tais autores são diversas, e isto dificulta a sua delimitação.

Um aspecto relevante que diferencia a obra dos dois autores, é o fato de Bourdieu ser sociólogo e Foucault um filósofo. Esta característica pode explicar que Bourdieu possua uma preocupação maior com a aplicação da teoria.

Na mesma linha, pode se pensar que o pouco volumem de pesquisa ao redor das relações de poder, pode ser reflexo da pouca atenção dada à sociologia, dada a resistência à aceitação da disciplina pelos pares na contabilidade.

Sugere-se para estudos futuros, um estudo que compare o poder disciplinar de Foucault, com o poder simbólico de Bourdieu, identificando quais comportamentos dentro da organização, tanto na área gerencial, quanto na financeira, sinalizam as relações de poder e suas consequências para a empresa. Levantar questões do tipo: quem são os detentores do poder e o que fazem para que as relações persistam ou aumentem? É preciso analisar também, as relações de poder e de dominação desde o chão de fábrica. Isto é, como as relações de poder ocorrem entre os mais diversos setores da organização?

Outra sugestão seria olhar o poder disciplinar de Foucault em relação às crises financeiras, bem como ao cenário de fraudes. Deste modo, poder-se-ia verificar até que ponto o fato de “vigiar e punir”, ou seja, o poder disciplinar pode evitar fraudes ou amenizar as perdas, e a crise?

No caso de Bourdieu, os agentes buscam adquirir sempre mais e novas formas de capital. Neste sentido, quais são os tipos de capitais que mais importam aos CEO’s e CFO’s? Como o habitus pode interferir para adquirir determinado capital na contabilidade, ou para convertê-lo em outro tipo?

É também importante ressaltar, como fazem Cooper e Hopper (2006), a necessidade de estudos de caso para demonstrar o poder inerente aos processos gerenciais. Deste modo, podem se indicar mudanças progressivas na Contabilidade Gerencial. Malmmose (2015) inclusive sugeriu a adoção de um vocabulário da Contabilidade Gerencial. Diante do exposto, nota-se que a teoria de Foucault e de Bourdieu contribuiria sobremaneira para a contabilidade, demonstrando que teorias diferentes das tradicionalmente utilizadas nessa área, são relevantes e trazem novos insights. Como limitações, destaca-se a busca pelos termos contabilidade gerencial e contabilidade financeira. A escolha se deu por serem duas grandes áreas e que abrangem subáreas como custos, controladoria, orçamento e planejamento, bem como, societária, entre outras.

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Notas:

* Tipo de pesquisa: revisão da literatura.

Autor notes:

a Autor para correspondência: maravogtcco@gmail.com

Informação adicional:

Para citar este artículo: Vogt, M, da Silva, M. Z. & Venturini, J. C. (2019). As relações de poder nas pesquisas em contabilidade: uma análise a partir da perspectiva de Foucault e Bourdieu. Cuadernos de Contabilidad, 20(49). DOI: https://doi.org/10.11144/Javeriana.cc20-49.rppp

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