Explosão intertextual, polifonia intersubjetiva e contra-visualidade: práticas artísticas cooperativas na primavera latino-americana

Resumo

O documentário experimental Fragmentos por venir (Miguel Alfonso-Bouhaben e alunos de Cinema da UArtes 2020) e a plataforma digital e o livro impresso A cidade como texto (Carola Ureta Marín, Chile, 2020) são dispositivos criativos que se recusam a esquecer a memória e que fixam em imagens entrelaçadas a energia popular que irrompeu no espaço público em ambos os países em 2019, no que alguns meios de comunicação chamaram de Primavera Latino-americana. Essa energia foi gerada por uma massa anônima e disforme que não reivindica autoria, mas que compartilha com a arte o poder da intenção de dizer algo, de se comprometer com um ponto de vista transformador e que, em sua realização, descobre uma esperança compartilhada de que se torna uma comunidade orgânica e política. Ambos os projetos expressam surpresa com o “acontecimento” e uma certa reverência pelo poder impressionante de um povo que explode, destrói, cria e recria. Fragmentos por venir visa romper com o discurso hegemônico da mídia por meio das táticas de collage e a reapropriação. A cidade como texto é um trabalho colaborativo e autogestionário para preservar a memória gravada nas paredes da avenida principal das manifestações no Chile durante a explosão social. Ambos os projetos configuram espaços de comunicação alternativos que contrariam as omissões e silenciamentos dos grandes meios de comunicação, através de um processo crítico de desconstrução, rememoração e reimaginação pela transformação de imagens