Fissões no tecido sensível do vivo: a experiência estética em três criações bioartísticas sobre a semivida, a extinção de vidas distantes e a morte de vidas próximas

Resumo

Através de este artigo viso compreender a experiência estética de diversos espetadores em três criações bioartísticas: Victimless Utopia (2003-2006) de TC&A, Malamp: Reliquaries (2001-) de Brandon Ballengée e Mother and Child (Divided) (1993) de Damien Hirst. Parti de uma abordagem hermenêutico-fenomenológica de corte qualitativo baseada na proposta da etnografia sensorial. Em entrevistas antropológicas em profundidade, mesmo como autoetnografia, explorei os diálogos que onze espetadores, de características heterogêneas, entravamos com as obras, a fim de compreender a nossa experiência estética. Constatei que as peças nomeadas põem em crise a nossa noção de o unitário e certos dualismos perniciosos do pensamento ocidental, dando lugar à monstruosidade, mediante a fissão do tecido sensível, a hiperestesia e o dissenso. Nesse processo, emergiram novas categorias de pensamento, como a semivida, a vida distante e a vida próxima. Pude concluir que a experiência estética pode se estruturar em função da identificação dos modos de torção do tecido sensível, o questionamento do senso comum, a mobilização afetiva e o dissenso. Minha contribuição é propor uma aproximação à experiência estética do monstruoso que permita esclarecer como o modo de torção do tecido sensível articula-se com a crise do pensamento dualista e com a possibilidade de reconfiguração da realidade.