Este artigo faz parte dos trabalhos realizados em um programa de pesquisa e agenciamento social e artístico iniciado em 2018, com conclusão em 2023. O programa visa contribuir à construção de pazes mediante a geração e o fortalecimento de capacidades políticas e de criação em territórios feridos pelo confronto armado recente na Colômbia. É escrito de mãos dadas por duas pessoas cujas formações e experiências as levaram a trabalhar juntos em campos complementares: o estudo e agenciamento de pazes territoriais e a pesquisa-criação. No centro da concepção metodológica do processo, acha-se a pesquisa-ação, traduzida em
ações cocriativas a partir das quais pesquisadores sociais e artistas de procedência acadêmica, em diálogo com integrantes de comunidades de seis territórios em três departamentos da Colômbia, desenharam e realizaram rotas de ação para a construção de pazes em contextos situados. A imersão das equipes de trabalho nos territórios, as conversas informais nas tardes e noites, bem como os percursos por locais carregados de histórias de conflitos e violências levadas a limites inimagináveis,
atravessam subjetividades, provocam outros balanços nas emoções e constroem experiências estéticas que ultrapassam as formalidades das produções acadêmicas mais convencionais. Quiçá a semelhança dos ouroboros, o artigo coleta momentos presentes que são devorados por potências mais poderosas. De inicio, oferecem-se duas reflexões, necessárias para enquadrar o posterior registro literário de situações em que os sujeitos devêm personagens, o que permite uma aproximação estética e política dos modos coletivos e individuais de habitar os territórios em meio às rupturas e continuidades próprias das transições. Foi escrito
a partir de notas de campo tiradas pelos autores e inclui uma consideração final sobre a pesquisa a partir da arte.