CHAMADA PARA ARTIGOS | Escritas fronteiriças: a palavra como prática artística e o corpo expandido na escrita
Escritas fronteiriças: a palavra como prática artística e o corpo expandido na escrita
Editora convidada: Marcia Cabreroa
CHAMADA PARA ARTIGOS
DATA LIMITE: 16 de janeiro de 2026
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A escrita artística constitui, em essência, um ato de tradução impossível e necessária: impossível porque a arte habita um território pré-linguístico onde os significados gestam-se antes das palavras, porque a linguagem discursiva, com sua sintaxe linear e lógica sequencial, nunca consegue capturar completamente a experiencia viva do processo criativo, esse fluxo de decisões intuitivas, revelações corporais e saberes tácitos que resistem a ser fixos nas formas linguísticas convencionais. Necessária, porque, precisamente, por fracassar na tentativa de conter o inefável, gera um território intermediário onde a criação pensa-se a si própria. Neste interstício, a grafia torna-se o traço do gesto, o vocabulário o eco da percepção e o texto o mapa de uma viagem onde o fundamental continua a ser o território inexplorado para o qual aponta sem nomear completamente.
Esse ato de tradução funciona como ponte tendido entre dois modos de conhecimento que se precisam mutuamente, mesmo que nunca coincidam plenamente: o acadêmico, com seu rigor sistemático que ordena, demonstra e conclui, e o artístico, com sua verdade orgânica que vibra, duvida e reinventa-se. Nesse espaço fronteiriço, onde o acadêmico e o artístico se confrontam sem se anularem, emerge uma tensão vital que mantem essa escrita em constante busca de formas para expressar o que pode ser indizível, mas que vale a pena continuar tentando articular.